quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Helmut Newton (1920-2004)

Helmut Newton: o homem que amava todas as mulheres

Neste trabalho, procurei explorar as figurações do corpo feminino na vasta obra fotográfica d  H trabalho, procurarei explorarr lmut Newton nas suas vuaç hrimantdade.e Helmut Newton, reflectindo sobre as várias ias.  imaginfases da mesma, de modo a caracterizar o seu imaginário transposto nas suas fotografias. Será nosso objectivo, reflectir sobre o tratamento de Helmut Newton da figura da mulher e como ele no-la apresenta, destacando as suas intenções, o design de ambientes, a sua intencionalidade cénica na construção de fotografias compostas.  

Deste modo, abordarei os seguintes tópicos no corpo do trabalho:

1.  a relação entre as divisas do corpo na antiguidade grega e na contemporaneidade;

2. a performatividade das fotografias de Helmut Newton: dimensão teatral e vertente  representacional do corpo;

3. os processos criativos de trabalho: modalidades de trabalho vs. relação profissional e contemplativa que tem com os seus modelos, contrariando o princípio da ligação directa entre arte e vida;

4. a influência de Newton na fotografia contemporânea: o modo como a sua obra inspirou e estimulou as gerações futuras, mas também como a partir dela se fizeram novas obras consubstanciadas em remakes das suas fotografias;

5. caraterização da experiência múltipla do olhar na obra fotográfica de Newton. Uma obra que desperta emoções, por via da sensualidade e do erotismo, que produz uma fumarola nostálgica porque nos transporta até ao passado, actualizando um tempo que já passou mas que foi resgatado em cada fotografia


O fotógrafo

I like photographing the people I love,
the people I admire, the famous,
and especially the infamous.
Helmut Newton


1. Intro

Neste trabalho procuraremos aprofundar, tanto quanto nos for possível, o olhar sobre a obra fotográfica de Helmut Newton, reflectindo sobre as seguintes questões: a exaltação do corpo feminino vs o servilismo e a submissão do corpo feminino ao ethos masculino os arquétipos de beleza do corpo feminino numa escala temporal que percorre a contemporaneidade mas que nos remete para a Antiguidade Grega, a dimensão  performativa das suas fotografias e, na sequência, a potencialidade teatral através de um trabalho apurado sobre o aspecto representacional do corpo, mas também sobre a carga erótico-sexual das suas imagens pictóricas que despertam desejo, ao mesmo tempo que possibilitam a retirada de um prazer individual, por vezes secreto, por vezes difundido, outras vezes ainda por descobrir, qual ressonância íntima na libido, já que a sua obra é, muitas vezes, conotada pelo universo porno-chic (nas suas alusões sado-masoquistas e fetichistas), produtor de um universo fotográfico assente no glamour, luxo, volúpia e provocação.

A ruptura que o trabalho de Newton, entre outros, representou relativamente à fotografia clássica (nos campos da moda e do retrato, mas não só) aproximou-o da arte fotográfica sobre o corpo de uma mulher. "Adoro e procuro reacções, não gosto de gentileza ou delicadeza”. A provocação não surge da necessidade de provocar, mas alguns temas são necessários para criar efeitos fotográficos, novas tensões visuais", disse Newton numa conferência de imprensa em 1984.

Provocação?
“Eu adoro a vulgaridade. Na verdade, sou atraído pelo mau gosto, que me parece bem mais excitante que o pretenso bom gosto, que nada mais é que a normatização do olhar”, provocava Helmut Newton.

Do seu álbum, fazem parte fotografias feitas desde a década de 60, que capturou com erotismo e sofisticação figuras como Catherine Deneuve, Liz Taylor, Cindy Crawford e Isabella Rossellini e criou imagens icónicas do universo da fotografia de moda.

Provocativo, Helmut buscava a libertação do constrangimento e dos limites convencionais do quadro imposto pela estética fotográfica de sua época. O resultado são imagens fortes e ao mesmo tempo repletas de subtilezas. Obras que inspiraram todas as gerações posteriores da fotografia de moda, a que já lá iremos.

1.1. Ressalva metodológica

À falta de fontes primárias de consulta aprofundadas e desenvolvidas relativamente à sua obra, optámos por realizar um trabalho baseado na interpretação pessoal e directa no confronto directo com algumas das suas obras, seguindo a esteira de Umberto Eco na sua obra Obra Aberta (1962), que transformou indelevelmente as estéticas de recepção no campo artístico (literatura incluí1.1.
﷽﷽﷽﷽etodolniverso fo ut Newton
sto na sua obra rir, qual ressonde um prazer individual, por vezes secretda), no modo como alargou as “possibilidades interpretativas” de uma obra singular.

Eco, diagnosticando que as artes contemporâneas se desprenderam quase totalmente dos conceitos técnicos e estéticos pelas quais as práticas artísticas anteriores se regiam,  perdendo, desta forma, a leitura de significado unívoco que até então lhes era maioritariamente comum. Esta característica das artes contemporâneas vem acrescentar à obra um factor de ambiguidade e de multiplicidade de interpretações, podendo ser visto como uma conquista ao nível da recepção, já que a partir daqui os artistas não podiam ambicionar a um controlo total dos efeitos e leituras das suas obras.

Apesar deste factor pessoal e individual (assim sendo, interpretativo) inserido na obra, esta tem  que conseguir criar um elo com o fruidor e para isso é necessário que contenha certos elementos básicos de comunicação que sirvam  como ponto de partida para que o receptor possa seguir o seu caminho a nível de interpretação e tirar então também, algo  pessoal e individual da obra. Assim nasce o conceito de “obra aberta”, existindo uma ponte entre o criador e o fruidor, em que este último poderá criar o seu próprio caminho (conduzido pelo  primeiro) dentro da multiplicidade de sentidos da obra, contribuindo assim para a criação do sentido da mesma.

Senão vejamos. Umberto Eco e sua a possibilidade da Obra Aberta, sugere que todas as obras de arte, acabadas ou não, são abertas, uma vez que podem ser interpretadas de diversas maneiras, dependendo apenas de quem as observa. Ou seja, uma peça de arte é um objecto de “leitura” individual.

Quando o autor utiliza a expressão “obra aberta”, esta não tem uma conotação crítica, mas sim uma conotação adjectiva para a Arte Contemporânea, seja ela literatura, pintura, música, entre outros. Ele defende- se ainda através de inúmeros exemplos, para demonstrar a lógica no seu raciocínio.

Este livro foi escrito numa altura em que a arte europeia se “revolucionava” contra o que existira até aí. Os artistas criavam peças inacabadas, que só ficavam verdadeiramente concluídas no imaginário do público.


2. Auto-retrato Helmut Newton

Helmut Newton é um dos maiores nomes da fotografia de moda do século XX e que teve a sua primeira retrospectiva depois de sua morte, em 2004 no Grand Palais, em Paris. Uma mostra que conta com mais de 200 fotografias de um artista considerado sensível e provocador, que capturou beleza, humor, erotismo - e às vezes violência – apreendidas e apercebidas numa interacção social entre os mundos da moda, do luxo, do dinheiro e do poder.

A importância do fotógrafo alemão, nascido judeu, para a imagem é incalculável.

Vivendo épocas de grandes mudanças sociais usou a criatividade de forma irreverente, chocante e provocativa para criar suas fotos, que foram destaque em revistas como a Vogue alemã, francesa ou italiana e para retratos e campanhas publicitárias de grandes estilistas como Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld, mudando a cara do mercado de luxo.
Ele será lembrado por criar os registos de uma mulher forte, desafiadora, que usa o corpo como “arma” contra os tabus.

Nascido em Berlim, na Alemanha e filho de um fabricante de botões judeu-alemão e de uma americana, Newton fugiu do seu país natal em 1938, aos 18 anos, durante a perseguição nazista. Desde cedo interessado por fotografia, Newton refugiou-se em Singapura, onde trabalhou como fotografo para o Straits Times. Depois  instalou-se em Melbourne, onde mais tarde tiraria  a sua cidadania australiana. Entre idas e vindas mundo a fora,  morou em Londres, Paris (cidade onde ganhou notoriedade por trabalhar na Vogue francesa), Monte Carlo e foi em Los Angeles, que viveu os seus últimos anos, até que em 2004 sofreu um acidente de carro que colocou fim à sua vida.


1. As divisas do corpo na contemporaneidade vs. antiguidade grega

Quando Helmut Newton começou a fotografar as mais altas, mais atléticas e sensuais modelos, não sabia que, séculos antes os gregos antigos já as tinham tornado um mito. De acordo com o mitologia grega, as Amazonas eram mulheres guerreiras da Ásia Menor. Elas eram fortes, destemidas e peritas em caça e matança.

Nalgumas versões do mito, a nenhum homem era permitido ter relações sexuais ou residir no território (país) das Amazonas, mas uma vez por ano e para evitar que se a sua raça desaparecesse, elas visitavam uma tribo de homens vizinha para terem relações sexuais com fins reprodutivos.

Dos nascimentos ocorridos, as crianças do sexo masculino que resultariam destas visitas eram mortas ou enviadas de volta para os seus pais ou empurradas para o deserto, abandonadas a si próprias. Já as fémeas eram mantidas pelas mães de Amazon e treinadas para actividades agrícolas, assim como para a caça e a arte da guerra.

Noutras versões do mito, e quando as Amazonas entravam em guerra, o intuito não era matar todos os homens, mas em vez disso converter alguns como escravos para que pudessem, uma ou duas vezes por ano, usá-los para o sexo procriativo.

Esta história elaborada pode parcialmente explicar porque nós ainda somos transpostos através da mira/lente de Helmut Newton para as mulheres da Amazónia.

Nós podemos admirar o brilho técnico da sua fotografia, mas é a visão surpreendente desta sub-espécie rara do ser humano, as vencedoras de uma lotaria de DNA que nos mostram as suas invejáveis longas pernas, maçãs de rosto geométricas e rostos perfeitamente simétricos. Numa  vida anterior, estas mulheres poderiam ter passado os seus dias caçando homens para o seu deleite sexual ou para a prática desportiva. Hoje em dia, estas mulheres, segundo as leis de mercado fetichista, são pagas a milhões de dólares para serem fotografadas, assegurando que a mitologia da mulher amazónica continuará imprevisivelmente por centenas de anos.

Num dos capítulos do documentário “Provas de contacto”, Helmut Newton descreve uma sessão fotográfica que realizou com uma mulher que tinha conhecido. A sessão fotográfica realizou-se na casa dela. Nessa sessão, Newton pediu à mulher que acedeu para subir as escadas como um cão, com as pernas e os pés atados. Quando esta fotografia foi exposta, muitas pessoas se opuseram quanto à submissão do seu corpo aos seus desígnios, relembrando as contradições discursivas de Newton relativamente à potência da sua imagética poder contribuir para a libertação da mulher. Porém e respondendo a isso, Newton confessa que a mulher tinha adorado fazer aquela sessão fotográfica, demonstrando que a percepção é muitas vezes limitada à tábua axiológica de cada um e que ele apenas seguiu o seu instinto criador, desafiando-a, não pressupondo qual seria a sua reacção.


Sie Kommen (Elles arrivent), Vogue France, Paris, 1981.


Dominadoras, independentes, amazonas estonteantes, as modelos de Newton aparecem sempre em poses provocativas e pouco óbvias. Suas fotografias evocam elementos do sadomasoquismo, sobretudo como parte integrante de um universo requintado e profano, no qual o poder e o dinheiro ditam as regras da sexualidade levada ao extremo. A exposição coloca em evidência esse apelo do corpo feminino retratando um tipo de mulher politicamente incorreta, provocante e consciente de sua imagem fatal. “Ele transformava as modelos em estátuas de Vênus, e, por meio de sua obra, a história da nudez clássica atingiu o apogeu contemporâneo”, diz Jérôme Neutres, curador da mostra.
Nascido Helmut Neustädter em Berlim, Alemanha, em 1950, mudou-se para Londres e em seguida para Paris. Na cidade,  as suas fotografias para revistas como Vogue e Harper’s Baazar tinham a marca do seu génio – fetichismo e erotismo no limite. O seu trabalho levaria-o a Nova York, onde ele consolidaria a sua reputação como um dos maiores fotógrafos de moda em todos os tempos. Helmut Newton morreu a 24 de Janeiro de 2004, aos 83 anos, quando perdeu o controle do seu Cadillac e invadiu o muro do hotel Château-Marmont, em Los Angeles. Até ao fim, a sua vida foi marcada pelo glamour.

Paloma Picasso, Charlotte Rampling, Naomi Campbell, Elizabeth Taylor, Isabelle Huppert, Cindy Crawford, Eva Gardner… todas as mulheres que importam, em diferentes épocas, posaram para as lentes de Helmut Newton, com e sem roupa. A actriz francesa Catherine Deneuve conta que não se lembra ao certo em que circunstâncias a sua fotografia foi tirada. Registou apenas que ele foi até a sua casa, abriu o seu guarda-roupas, escolheu uma camisola de seda, algumas joias e começou a fotografá-la. “Ele tinha a insolência de um dandy, mas sem jamais ser invasivo”, diz. A foto mostra Deneuve em 1976, exalando sensualidade, com um cigarro pendendo da sua boca. Uma obra clássica, que enquadra todos os elementos do seu estilo marcante.

Helmut afirma, no Dvd de Provas de contacto, aos 04:10 minutos, “O que tenho de fazer é só carregar no botão, é uma câmara que qualquer amador compra, está tudo aqui (apontando para a cabeça), aos 06:40, “Gosto da palavra poderosa, sempre gostei de mulheres fortes, porque me sinto seguro, aos 08:45 minutos, “ Eu não gosto de mulheres 100% femininas, eu gosto de mulheres um pouco andrógenas, quando se sente a força.”


Análise de fotografias de Helmut Newton

1.

Sans titre, 1975

Nesta fotografia vemos uma  mulher nua que usa apenas uns sapatos de salto alto vermelhos, que evoca um mundo, não de realidades de mau gosto e perecíveis, mas de tintas acrílicas e vernizes de brilho duradouro. Esta mulher está a ser abraçada por um homem, que veste um smoking  preto. Verificamos que ele cedeu a sua gabardine para proteger esta mulher das folhas secas e do chão.
Nesta fotografia os personagens são compostas numa espécie de mise-en-scène, percebemos que existe uma cumplicidade entre estas duas pessoas de vido à forma como se abraçam.
Newton é mestre em alcançar um equilíbrio entre as suas imagens entre as figuras que participam e o elemento de design e o plano de fundo sempre constitui uma forte contribuição sem se sobrepor às modelos.





CREATOR: gd-jpeg v1.0 (using IJG JPEG v62), quality = 80


Berstrom over Paris, 1975

Esta fotografia mostra-nos a modelo Gunilla Bergström reclinada, nua mas com uns sapatos de salto alto cinzas, brincos de diamante e pérola e com baton vermelho, na frente de uma janela de vidro. Ela olha para o seu reflexo no espelho. Aqui o cenário é imponente, vemos a cidade de Paris através da janela do quarto desta mulher, edifícios de Paris aparecem cá em baixo.
Este é um tema recorrente nas suas fotos, uma mulher a olhar para ela própria num espelho num momento muito privado. Ela é ou muito nova e admira a sua beleza ou mais velha e faz um exame crítico de si própria.





























3. O corpo revestido , estilizado e preparado vs corpo descontraído no contexto da praia.


Yves Saint-Laurent Magazine Stern Saint-Tropez (1978)

Aqui é-nos dado a ver uma mulher elegantemente vestida de preto com uma encharpe ornamentado com pedras coloridas, portando um chapéu excêntrico composto igualmente com uma pedra colorida.

Deste modo, estamos perante um contraste entre esta mulher e o espaço da praia, local cheio de pessoas em biquinis e fatos de banho, mulheres em topless com pele bronzeada em Saint-Tropez, como se nos fizesse lembrar do que será o dia e a noite, prolongando  o lado glamouroso e lúdico da noite, das festas e transformação das pessoas nesses contextos.

Parece-nos ser tão intencional essa proposta de leitura que arriscamos a dizer que a mulher que está em segundo plano e de pé com um cigarrilha na boca foi lá colocada,  mostrando, e através de contraste, outra dimensão do glamour: pequenos prazeres na praia, estando o seu corpo despojado de revestimento encobridores e enganadores de personalidade. Esse detalhe também nos mostra, em caso de sublimação, que nos encontramos em Saint-Tropez com este pormenor.

Outro aspecto a ressalvar é a banalidade perceptiva do corpo desnudado na praia vs. o corpo revestido em contextos espaciais e sociais protocolados pela encobrimento, daí a relevância do facto da mulher vestida estar em primeiro plano.

Vislumbramos esta fotografia e assalta-nos imediatamente a questão: Porque é que as pessoas dão mais importância a uma perna cruzada com umas meias de ligas que se desvenda por baixo de um vestido do que a um corpo totalmente desnudado numa praia com um biquini ou apenas um fio dental?





4.



Calendrier Pentax Saint-tropez 1976

“Há algo de muito formal e contido sobre um piscina, é como fotografar uma paisagem, um lago privado especialmente bonito à noite” – Helmut Newton

Nesta fotografia estão duas mulheres alinhadas simetricamente numa piscina em Saint –Tropez. Newton também afirmava que sempre captava uma mulher está acima da linha da água, seja deitada num colchão ou a mergulhar, queria fazer parecer que ela estava a voar.

























5.

5


Sans titre, Saint Tropez, 1975

“Nada foi retocado, nada foi modificado pelos meios electrónicos, fotografei aquilo que se vê.”- Helmut Newton

Nesta foto verificamos: os bonecos representam o homem , ela a mulher. A história que consigo apreender desta foto é que ela quase se afogou no mar e foi resgatada por esta dupla de mergulhadores, que estavam ali por acaso. Na fotografia verifica-se que um está a imobilizá-la e outro prestes a fazer respiração boca –a –boca, prestes a ocorrer o seu  possível salvamento. A mulher está com os olhos entreabertos, inconsciente, desmaiada, vulnerável, o que é um contraste entre o tamanho da mulher e o dos bonecos, a sua grandeza e a pequenez dos bonecos.
Podemos fazer uma associação com Guliver- a grandeza desta mulher vs a pequenez dos bonecos/homens.


De onde surgiu esta mulher?

Os bonecos são um acrescento artístico , quando Newton diz que nada foi retocado, nada foi modificado nos meios electrónicos, fotografei o que vi, uma leitura possível é que os bonecos foram colocados com um propósito de encenação, criação de um efeito de levantar questões.

Podemos relacionar esta fotografia com o termo de Freud, inquietante estranheza (Das Unheimliche), termo que resulta de um artigo de Freud com o mesmo nome (“Das Unheimliche”, 1919), em que o autor aborda numa perspectiva psicanalítica este conceito da estética presente, por excelência, na obra de E. T. A. Hoffmann. Incluindo-se no que suscita o medo, das Unheimliche é aquele terror que remonta ao que é desde há muito conhecido e ao qual se está há muito acostumado.
O efeito do unheimlich é atingido na ficção quando o autor se situa aparentemente no campo da realidade, ou, não esclarecendo o seu ponto de partida, extravasa para o mundo do fictício, induzindo em dúvida e enganando o leitor. É condição, que o leitor se tenha posto por dentro da personagem que vividencia a inquietante estranheza, sendo esta mais resistente, quando proveniente de complexos infantis recalcados.

Newton conseguiu  proporcionar os meios para produzir a sua imaginação.

Apoiámos a nossa liberdade na noção de “Obra aberta” de Umberto Eco- liberdade de interpretação. A ideia de obra aberta (Umberto Eco) pressupõe a polissemia, que são os múltiplos significados da obra.

Todas as interpretações são possíveis?

Dois sentidos da obra aberta:
1-    a obra não está fechada.
2-    a liberdade de interpretação do espectador e o seu papel na completude da obra.


Na página 173,“a obra aberta”, como proposta de um campo de possibilidades interpretativas, como configuração de estímulos dotados de uma substancial indeterminação de modo que o fruidor seja levado a uma série de “leituras” sempre variáveis, estrutura, enfim como “constelação” de elementos que se prestam a diferentes relações recíprocas.



O processo criativo na foto em que a mulher June entra,  o auto-retrato em que ele expõe  o processo de trabalho com a sua mulher.
A vida dele é o trabalho. Acesso ao retrato e à semelhança das meninas de Velasquez, à luz de Foucault que diz que esta é a primeira obra onde se mostra o processo criativo, temos acesso ao objecto/centro da obra, ao modelo, àquilo que supostamente tínhamos direito a ver, por outro lado, ao nos dar a ver aquilo que está por detrás, ao inacessível, Newton está a fazer-nos não apenas espectadores daquela possível obra para passarmos a ser espectadores co-presentes do processo criativo da obra.
Jacques Lacan, secundado por Antonio Quinet, sustenta que a pintura As Meninas e a tela de costas nela contida fazem parte de um jogo apresentado por Velásquez, como uma carta virada para o espectador, o que obriga a todos que olham a obra a arriarem as suas cartas, dando suas interpretações. Dessa óptica, tentaremos também baixar nossas cartas, apresentando nossas conclusões e interpretações como frutos da nossa imaginação.



6.




Self Portrait with Wife and Models, Paris, 1981






Description: http://daquidali.com.br/media/images/uploads/2012/04/04/helmut_materia.jpg
 É uma foto de uma modelo totalmente vestida, com um smoking masculino Yves Saint Laurent, que resume a importância de seu “olhar” para o mundo.






Lisa Lyon II - 1981

Eva with Pickelhaube, Monte Carlo 1993


Estas fotografias demonstram-nos a força destas mulheres, tanto pelos acessórios que usam, as botas, o capacete de guerra e a pulseira de bicos, e também pela posição dos seus corpos. Recorre aqui ao seu universo fetichista.







"Fashion is never anything but an amnesiac substitution of the present for the past" Roland Barthes

A influência de Helmut Newton na fotografia contemporânea foi muito importante para as gerações futuras. Existem remakes das suas fotografias , a partir da obra e a sua influência no trabalho de outros fotógrafos.

Não só de Vogue e Big Nudes (1981) se fez a carreira de Newton, associado eternamente a temas e palavras carregadas como sexo e erotismo, sim, mas também ao voyeurismo, ao fetichismo e até aos primeiros caminhos do campo porno chic que seus contemporâneos ou seguidores (Guy Bourdain, Terry Richardson) sulcaram.

A experiência do olhar na obra fotográfica de Newton é múltipla: desperta emoções, por via da sensualidade e do erotismo, produz uma fumarola nostálgica porque nos actualiza um tempo que já passou.


"Fashion is both too serious and too frivolous at the same time"
– Rolland Barthes

As décadas de 1950, 60 e 70 podem ser consideradas como os períodos de transição mais profundos da fotografia de moda e assim, na cultura de moda em geral. Para cada era, um novo ideal de beleza feminina foi construído, introduzido e comercializado ao público. No meados ao final dos anos 1950, este modelo mulher foi solto ao ar livre, para além do anteriormente convencional restritiva e passiva postura. A nova figura de moda na década de 1960 foi concedida uma maior independência e uma maior identidade sexual com dinamismo e aumento da actividade. Na década de 1970, o ideal era menos claramente definido, embora esta mulher possuísse uma qualidade alienígena, uma sexualidade evidente e violência implícita. Diana Crane reconhece estes períodos de transição na fotografia de moda, especificamente na maior publicação de moda, a Vogue, no seu livro, “Fashion and it´s social agendas”. Destacando as mudanças, às vezes subtis, outras vezes evidentes em certos aspectos da fotografia de moda da revista, ela acompanha este processo de evolução. No ano de 1957, as modelos eram fotografadas muitas vezes olhando diretamente para a câmara, indicando seu status inferior através de expressões de vulnerabilidade ao invés de rebeldia. Durante este tempo, o maior foco das fotografias manteve-se na roupa. Uma década depois, a revista foi mostrando close-ups de modelos em fatos de banho e houve uma crescente ênfase na sua juventude.


Retrospectivamente, a fotografia de moda constitui um documento histórico que nos oferece evidência das práticas e ideais de um determinado período. No entanto, a fotografia de moda não é apenas um reflexo passivo de um período, ela serve como um veículo para  fazer circular novos padrões de consumo ligada à evolução das noções do eu interior.

Além disso, as imagens do formulário falam da essência do tempo. Estudiosos como Walter Benjamin, Mary Douglas e Rolland Barthes observaram  e têm reforçado, a moda funciona como uma linguagem, um funcionamento a diversos níveis e a fotografia de moda é o meio através do qual essa língua é falada por causa da sua enorme capacidade de reprodução e difusão. O vestuário, tal como qualquer forma de mercadoria, é um modo de comunicação. " O homem precisa de mercadorias para se comunicar com os outros e para entender o que está acontecendo ao seu redor”. As duas necessidades são apenas uma, para comunicação só pode ser formada num sistema estruturado de significados". A moda, as roupas são a identidade do utente e a imagem de tais indivíduos de solicitação ou de provocação de  discursos sobre a cultura e a sociedade numa escala maior.

No ensaio de Caroline Evans "Yesterday´s Emblems & Tomorrow´s Commodities”: O retorno no imaginário de moda hoje," a autora faz referência a muitas das ideias e temas presentes no trabalho de Barthes. Ao descrever a posição contemporânea e a forma que leva o quadro económico, Evans usa terminologia semiótica para construir o seu argumento, afirmando que a peça de roupa agora circula numa economia contemporânea como parte de uma rede de sinais, onde o vestuário real é um sinal de si.

Para apoiar esta declaração, a função maior da moda na cultura, Finkelstein observa como Barthes retém uma metáfora do sistema semiótico, porém Barthes reconhece a fluidez e as ambiguidades inerentes à estrutura de aparência elegante que forçam os seus códigos para se manter aberta .

A moda, independentemente do conteúdo simbólico que anima uma ou outra manifestação do mesmo, gravita em direcção à designação ou à destruição do significado, porque se alimenta de si mesmo (na capacidade de induzir outros a seguir independentemente da moda) em breve neutraliza ou estiliza qualquer significado, os seus significados tinham antes de se tornar objetos de moda.

O comportamento quase parasitário da moda mantém a sua posição problemática e o seu caráter de contradição. Barnard observa que Barthes escreveu: "Moda é muito séria e demasiado frívola ao mesmo tempo". Em termos de suas qualidades opostas e divergentes. Ele dá à moda um estatuto, nomeando-a "o sonho da identidade"  e dedica muito tempo à natureza da moda na cultura e os significados que ele se comunica.


































Bibliografia:

Newton, Helmut, White Women; Schirmer Mosel

Newton,Helmut, Photo; Avril 2012

Newton,Helmut, Provas de contacto, Midas 2009

Eco, Umberto, Obra aberta, Difel 1962